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Estamos num país democrático que as vezes não parece – Boaventura Rosa Langa








Quando falamos do Super-homem, em várias ocasiões nos aparece um herói de traje azul, com uma capa vermelha e de uma força impressionante, quase invisível. No entanto, os mais atentos ou os mais entendidos em matérias filosóficas, bem sabem que muito antes da invenção deste herói de quadrinhos, Friedrich Nietzsche já havia criado o termo Übermench um termo alemão traduzido com além-do-homem ou super-homem, descrito no livro assim falou Zaratustra. É nesse livro que, Zaratustra aconselha ao Homem mergulhar dentro de si para encontrar para encontrar uma forma que supere todos os humanismos, toda a cultura que o prende em si mesmo, e criar novos valores, onde a dor o cativa, o torna mais forte, um além-do-homem que deixa para trás o homem.

Em mais uma conversa descontraída para o Contos Achados Podcast, Boaventura Rosa Langa defende que se considera um super-homem, não pela força física, mas por acreditar e nunca deixar de correr atrás daquilo que deseja e por buscar dia pós dia fazer o máximo para ser uma pessoa melhor e diferente na sociedade, fala também do seu percurso como radialista e comenta sobre juventude.

Contos Achados - CA: O quê é que te fez adotar o termo super-homem?

Boaventura Rosa Langa - BRL: Identifiquei-me com o personagem e por causa disso fui procurando artigos de roupa que transmitissem essa idéia, provavelmente comecei a usar este nome quando entrei para a rádio em 2013.

CA: Quem é Boaventura Rosa Langa?

BRL: É um jovem que se apaixonou pela comunicação durante o percurso, apesar de ter caído de pára-quedas. Sou formado em gestão de empresas pela Universidade Pedagógica (faltando a monografia para concluir). Editor e locutor de rádio, às vezes me confundo se sou mais radialista ou editor, mas no final das contas descubro que gosto das duas coisas e faço com muito gosto. Sou pai de uma menina de três anos e casado. Para passar tempo tenho brincado com o Photoshop e Premier editando imagens e vídeos.

CA: Como é que entras para a rádio?

BRL: Na verdade eu diria que cai de pára-quedas. Sempre sonhei em ser arquiteto. Depois de terminar a 12ª classes, pensava em cursar arquitetura ou uma formação ligada a área, razão pela qual no ano seguinte depois de concluir o ensino médio me escrevi na UEM para arquitetura e na UP para um algo que tinha haver com desenho, mas não consegui admitir foi então que um amigo chamado Keven sugeriu que fossemos a rádio de Bagamoyo, a fim de ver algo sobre cursos, que ele ouviu falar, mas eu nunca tinha pensado que na minha vida faria rádio.

Quando chegamos à rádio, as inscrições estavam praticamente fechadas, mas deram-nos uma chance de fazer parte do casting que aconteceriam nos dias seguintes. Participamos e infelizmente o Keven não passou, mas eu consegui depois fiz uma formação e assim começa a história do super-homem na rádio em 2013.

CA: Como foi trabalhar numa rádio comunitária?

BRL: Quando entro em 2013 não tenha o privilégio de ficar no estúdio. Fiz a formação básica e integrei no grupo editorial de saúde, onde trabalhei por cerca de três anos num programa chamado saúde na comunidade, ia ao terreno, escrevia e gravava o programa...

A experiência de estar na rádio comunitária, foi à melhor do mundo, costumo dizer que por mais que eu vá para uma Rádio Moçambique, RDP África ou alguma outra, nunca vou me esquecer da minha rádio inicial, porque o bom de estar numa rádio comunitária é a possibilidade de aprender um pouco de tudo. Se tivesse nascido na Mídia Mais, só saberia fazer sonorização, porque fui contratado para isso, se calhar não descobriria que podia ser locutor. Na rádio comunitária te ensinam a fazer reportagem, notícias, programas, a escolher um tema e explorar. Aprendi muito com a Rádio Voz Coop e se tivesse nascido numa outra, não saberia fazer tudo o que sei.

CA: Editas áudio, não pensas em te profissionalizar na edição de vídeos?

BRL: Quando comecei a trabalhar com a Mídia Mais, editei vídeos para a televisão, apesar de ter sido contratado para a rádio, porém quando a TV nasce não tínhamos pessoal suficiente para aquele período inicial e fui dando suporte na edição de vídeos.

Trabalho com vídeos há algum tempo, mas agora estou a tentar ser mais criativo, adicionar efeitos, fazer spots publicitários… respondendo, diria que é tudo um processo, mas não descarto a possibilidade.

CA: Queres com isso dizer que não mais editas para a televisão?

BRL: Sim, porque quando a TV começa a ficar mais consistente. Contratou-se pessoal para cada área e eu não podia abandonar a rádio.

CA: Qual é o locutor com quem já trabalhaste que te marcou positivamente?

BRL: Desde que estou na comunicação nunca trabalhei com alguém que eu gostasse e me identificasse tanto como a Kátia Mendes. Ela é uma pessoa incrível, tenho aprendido muito com ela e ensinado algumas coisas. Conseguimos nos entender quando é para falar de trabalho e não só. Ela mostra como a vida pode ser levada.

Gostei também de trabalhar com Danny Ripamga e com o Cláudio Fotine.

CA: Qual é o artista que gostaria de voltar a entrevistar?

BRL: Vou falar de um jovem não muito conhecido que é o MJT, é uma pessoa com quem quando converso, só terminou a por conta do tempo e sou obrigado a fechar a entrevista, se não fosse por isso, até agora estaria a conversar.

O Simba também, já o entrevistei por duas vezes e é um artista que tem muito a transmitir, as televisões e as rádios não tem prazer de o receber sempre porque ele não é espalhado, mas eu tenho o orgulho de um dia já o ter entrevistado.  

Durante esses anos conversei com muita gente boa, fiz tantos programas bons. Estas são algumas pessoas que me recordo no neste momento.

CA: Sei que estiveste durante muito tempo envolvido num projeto de promoção de música denominado Sente Só Music. Como é que esta o projeto?

BRL: A Sente Só Music, acabou se expandindo, primeiramente a nossa idéia era só trabalhar com música, mas por conta da necessidade de crescer acabamos criando a Sente Só Digital onde trabalhamos com a produção de Spots, filmagens de eventos, aluguer de som e muita coisa ligada a eventos.

CA: Donde vem a Sente Só Music?

BRL: A sigla vem de uma expressão que usávamos na faculdade. Quando por exemplo queríamos adjetivar algo muito bom dizíamos: sente só esta música é muito boa, surgiu nessas brincadeiras.

No princípio eu praticamente era a única pessoa e trabalhava com o blog, mas atualmente tenho trabalhado com alguns jovens e um desses jovens que tem dado muito suporte é o Paulino Gruta. A Sente Só, surgiu como uma brincadeira, mas acabou ficando.

CA: O que pensas sobre a juventude Moçambicana, é dorminhoca, bajuladora ou é manipulada pelo Governo do dia, para que ela continue distraída?

BRL: Moçambique é um país de desafios e a juventude está a fazer a sua parte. Esta estudar, a abrir postos de trabalho, a ajudar o país a desenvolver. Temos jovens que são exemplo e que podem representar o país em qualquer parte do mundo. Mas, acontece que no meio dessas coisas boas, existem os que se metem em drogas e não se preocupam com o seu futuro nem o do seu país, mas não vamos generalizar, a verdade é que temos uma juventude ativa e eu tenho gosto de fazer parte dela, apesar de estarmos num país democrático que às vezes não parece.

CA: Tomaz Salomão disse certa vez que os jovens deveriam deixar de competir com as fábricas de cervejas e se focarem no desenvolvimento do país e Manuel de Araújo já reclamou publicamente que a juventude bebê demasiado.  Achas que somos jovens embriagados e distraídos? Como é que vês a fraca participação da juventude na vida política?

BRL: A verdade é que estamos um pouco desiludidos com várias situações que acontecem no país e de certa forma acabam desanimado a participação destes dessa vida política.

Quando o jovem sai para tomar alguma decisão política que de certa forma vai impactar diretamente na sua vida, ele espera que a decisão tomada realmente faça alguma diferença e que mude algo, mas nos últimos tempos não é isso que acontece, quando os jovens manifestam-se de forma pacífica, são oprimidos, vimos isso nas ruas, a polícia está lá com cães e chambocos  para abortar as reivindicações, é uma das coisas que pode estar a frustrar a Juventude . Outra coisa, o jovem quer ser empreendedor e muita das vezes ele encontra barreiras para ter acesso a licenças, há muita burocracia e isto é desanimador. Porque ele pensa o seguinte: de cinco em cinco anos vou votar alguém para me representar, mas as pessoas que são colocadas lá não me representam, são pessoas que quando reivindico algo, simplesmente ficam de longe e isso frustra por isso alguns jovens acabam afogando as mágoas na bebida. No, entanto, não vamos generalizar.

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