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"BASTA! A Frelimo tem que sair..." – Jojo Amadeu Ernesto

 


O Índice de Democracia de 2021 do The Economist Intelligence Unit (EIU), publicado no mês de Fevereiro do ano em curso, classifica Moçambique como um país autoritário pelo quarto ano consecutivo. O que não surpreende, pois por inúmeras vezes vozes discordante com a governação do partido Frelimo, são intimidados.

E uma dessas vozes que apesar de ser amedrontada não quer calar é a do activista, Jojo Amadeu Ernesto, membro fundador da Associação Mentes Resilientes, que concedeu uma entrevista ao Contos Achados podCast, onde fala "sem receios da necessidade da Frelimo ter que sair do poder para que o país possa desenvolver, porque este, faz Moçambique andar na retaguarda", segundo sua próprias palavras.

 BAIXE A ENTREVISTA AQUI EM PDF:

Contos Achados - CA: Quem é Jojo Amadeu Ernesto?

Jojo Amadeu Ernesto – JJ: É um cidadão moçambicano que ama o seu país e cumpridor dos seus deveres como qualquer outro, mas que não compactua com alguma forma de governação da Frelimo.

Considero-me um jovem visionário e patriota. Não sou nacionalista sou patriota. O nacionalismo mal compreendido, mal exercido reverte e entra na situação de autoritarismo. Os nacionalistas geralmente acabam singrando na demagogia que é um ramo do autoritarismo, estes, não aceitam críticas nem eleições, acham que podem se eternizar no poder. Sou patriota porque simplesmente quero o desenvolvimento do meu país. O crescimento humano, a democracia genuína, sou liberal. Quero que Moçambique perceba que está no mundo e que pertence a uma parte do quintal desse globo, portanto, todos precisamos crescer ao mesmo ritmo. A minha pátria não pode ficar atrás daquilo que se registrar no desenvolvimento global.

CA: Quem lê as tuas publicações no Facebook, fica com a impressão de que odeias a Frelimo.

JJ: As pessoas dizem que eu nasci no tempo da Frelimo, cresci no tempo da Frelimo, estudei no tempo da Frelimo e gozo dos privilégios que a Frelimo criou, por isso não sei o que quero. Talvez eu não saiba o que quero. Mas eu sei o que não quero. Eu não quero que este método de governação da Frelimo continue, não é uma questão de ódio, é uma questão de alternância. Eu preciso que haja alternância, o país não desenvolve por falta de mudanças na governação.

Façamos uma analogia: existem países que eram mais pobres que Moçambique quando este se tornou numa república. Nós somos república há 47 anos e há países como o Qatar que tem quase a mesma idade que a de Moçambique, mas eles tem uma das maiores estações televisivas do mundo, já enviaram uma sonda a Marte, o que significa que dominam a tecnologia e é um país pequeno com pouquíssimos recursos naturais.

Nós temos um vasto território, gás natural, vários rios, mas ainda há moçambicanos que bebem água turva, temos milhões de hectares de terra arável, mas ainda continuamos a importar cebola, tomate, alho... Porque não produzimos.

Se amanhã, o chinês deixar de fabricar um botão. Vais andar descamisado ou com o peito fora. Se o chinês deixar de fazer cinto, a tua calça vai cair ou vais amarar com corda. Somos uma pátria que ao long desse período, não sei para que servimos. Simplesmente continuamos na rota da retaguarda, então a Frelimo é o próprio travão para o desenvolvimento de Moçambique.

Não é ódio, é leitura verdadeira daquilo que é o cenário do nosso país e de quem governa, atenção, isto não é negação do estado, mas sim negação do governo da Frelimo. Nós precisamos de um melhor estado, mas este, só poderá surgir com a Frelimo fora do poder, os camaradas lutam pela manutenção, eles não têm em vista uma nova forma de governação.

Oposição é todo aquele que pensa diferente da Frelimo



CA: Achas que temos oposição capaz de resolver os problemas do povo moçambicano?

JJ: Quando se fala da falta de oposição, eu me pergunto: quem é oposição? Oposição é todo aquele que pensa diferente da Frelimo e ela só pode mudar o sentido de Moçambique estando no poder. Eu faço parte dela independente de ter ou não um partido político.

A oposição existe porque grande parte dos moçambicanos está saturada com a Frelimo.

CA: Esses moçambicanos que estão cansados, não são medrosos para tirar os camaradas do poder?

JJ: O problema é que o povo ainda não compreendeu que tem o poder, falta a farramenta chave que fará o povo entender que quando quiser a Frelimo sairá pela porta traseira. Falta consciência patriótica e democrática, isso por conta do analfabetismo semeado pela Frelimo, para que as pessoas não se importem com os problemas fundamentais do país.

Quando o cidadão está com fome a sua primeira preocupação é como matar a fome e isso alimenta a ignorância, porque este, até poderá deixar de se importar com o irmão que morre em Cabo Delgado, porque sente fome. São estas coisas que nós precisamos contornar.

CA: Como solucionar?

JJ: É difícil, mas nós ativistas, que temos informação precisamos encontrar meios locais. Um formato que sirva para Moçambique.

Um país pobre, sempre em conflitos, cheio de ignorantes, onde o nível do analfabetismo deixa a desejar, onde somos governados por opressores. Qual é a faramenta para desbloquear tudo isto e encontrar o PIN do despertar da consciência patriótica?! Quando conseguimos este PIN, até o camponês vai sair à rua e exigir os seus direitos.

CA: Será que os jovens que se juntaram a grupos de terroristas não estarão à procura desse código.

JJ: Enquanto dou está entrevista, estou em Cabo Delgado, tenho a sorte ou a infelicidade de ter visitado zonas fustigadas pelo terrorismo, agora compreendo a realidade, só quem não está a viver de perto os problemas desta província poderá pensar que os números que são apresentados constituem a verdade.

Cabo Delgado é uma província totalmente abandonada, parece ter sido desanexada de Moçambique, não por iniciativa da população local, mas do próprio governo que está ausente na sua totalidade, há falta de serviços de saúde, escolas, infra-estruturas, falta tudo. A população é controlada por líderes comunitários que não estudaram e mal sabem falar português. Podes visitar uma área com cerca de 20 mil habitantes e encontrares poucos que falar português, a maioria fala suaili. Porque dão pouca importância ao português. Provavelmente tenham encontrado uma forma de negar as atrocidades de um governo corrupto e por causa da ignorância foi fácil para as pessoas se aproveitarem desses jovens.

Tudo partiu desse sentimento de exclusão, de não serem dado o merecido valor. Se for a ver, maior parte desses jovens estudaram a religião islâmica, porque há falta de escolas e o governo não controla quem leciona nessas madrassas, porque está ausente e muita das vezes quem estuda a religião islâmica não tem mercado de emprego e perde a perspectiva de vida. Precisaram encontrar uma forma de reivindicar um espaço e foi na arma que acharam a resposta.

Mesmo neste período de guerra o governo ainda não criou outra dinâmica, enviou mais tropas, mas não mandou mais médicos e professores, continua a abandonar a população que sofre nas zonas de reacentamento. São as ONG's que vão dando a mão e o governo da Frelimo ausente, isso não pode acontecer.

Mudamos tudo ou tudo se repete



CA: Como nasce Mente Revolucionária?

JJ: Surge como uma resposta de um pensar diferente. O que és hoje é conseqüência das tuas ações do passado e elas foram pensadas, portanto, és o que és devido ao que a tua mente processa.

Nós queremos uma mente revolucionária, que pensa na mudança de um estado para o outro.

CA: Acreditas que o jovem está preparado para esta mudança?

JJ: A insatisfação está lá e cresce a cada dia que passa. Como dizia, falta um PIN, que vai desbloquear e unir estes jovens com o mesmo ideal e quando estiverem juntos, de certeza que irão exigir a saída dos camaradas.

Quando digo que precisamos tirar a Frelimo do poder, falo sem receios, convicto. Basta! A Frelimo tem que sair... Já chega!

CA: Como é que olhas para a juventude moçambicana? É acomodada ou preocupada em fazer mudanças?

 JJ: Os jovens são vítimas do sistema e manipulados por isso se desinteressam por alguns assuntos essenciais do país. Os órgãos de informação estão a fazer um ótimo trabalho para a Frelimo, porque distraem a juventude com conteúdos que não condizem com aquilo que o jovem precisa ver e ouvir do seu país. Por outro lado temos a educação que é usada para que o jovem não desperte a consciência. Enquanto a qualidade da educação for baixa o jovem não tomará conhecimento das leis que o defendem.

Para se ser um agente de mudanças você precisa ter formação e informação. A Frelimo omite ou distorce informação e nega-te formação e adicionalmente vai te impor a fome. Assim não terás espaço de revoltar-se. Estes são os veículos que ajudam os camaradas.

CA: O que é Mente Revolucionária?

JJ: É uma organização como qualquer outra que pensa em aglutinar uma massa que quer Moçambique melhor e que parta do princípio de que precisamos viver num estado com democracia genuína, justiça social, por isso dizemos: MUDAMOS TUDO OU TUDO SE REPETE.


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