É no ambiente familiar que desde
criança nos é ensinado o que é certo ou errado, no entanto, na
formação do nosso caráter sofrermos várias influências seja do meio em vivemos ou das pessoas com as quais nos
relacionamos.
Para muitos que conhecem
a essência do islamismo é impossível aceitar que o grupo que mata e destrói em
Cabo-Delgado, Al-Shabab, esteja a agir em nome do verdadeiro Islão.
Zulfikar Abdurremane, residente
da cidede Pemba, em entrevista que decore de forma informal, ao Contos Achados, comenta com preocupação a falta da justiça
que se vive atualmente na sociedade moçambicana e fala sobre o conflitos armado de
Cabo-Deldago.
SOMOS ENSINADOS A SERMOS JUSTOS
Contos Achados – CA: Antes de
começarmos a conversa disseste que eras um adepto incondicional do Clube
Desportivo de Maputo, mesmo estando a residir no norte do país. Qual é a sua
naturalidade?
Zulfikar Abdurremame - ZA: Sou natural da Ilha de Moçambique,
foi lá onde passei a minha infância e foi onde fiz o ensino primário e
secundário. Depois de ter concluído mudei-me para a capital provincial, Cidade
de Nampula, para fazer o ensino superior e de lá rumei para Cabo-Delgado,
Cidade de Montepuez, onde resido
atualmente.
Podemos dizer que provenho de uma família nobre no contexto
religioso, os meus avós eram chefes de algumas confrarias e
sabemos que a Ilha de Moçambique é ocupada por maioritariamente por muçulmanos.
CA: Dizes que és de uma família que realmente entende a essência
do Islamismo. Estando atualmente em Cabo-Delgado, como é que olhas para o cenário de jovens se juntarem a grupos terroristas
para matar, destruir e desestabilizar o país em nome de uma religião ou de uma
deidade muçulmana?
ZA: Não existe justificativa para defender uma certa radicalidade. O Islão é uma religião que promove paz, somos
ensinados a sermos justos e a justeza ela não envolve atrocidades. Dentro do alcorão
existem versículos que para serem entendidos na sua essência precisam de
outros. Estes extremistas, nalgum momento podem escolher algo isolado que nem
matar, mas não percebem que este "matar" não pode ser interpretado de
forma isolada, tem um versículo associado.
Associar esta situação a questão da religião seria um pouco
complicado, apesar da tentativa de algumas pessoas em fazer isso. Não podemos dizer que a causa disto é o Isão. Se calhar o governo e os investigadores têm algumas
causas já apresentadas em relatórios, mas eu as considero vagas.
É triste ver jovens a fazerem isto,
porque é nossa pátria, é uma nação, independentemente dos problemas
que possamos ter, existem entidade onde podemos colocar as nossas indignações.
CA: Falas de existirem entidade onde podemos reclamar, mas
nem sempre essas organizações funcionam para que não tem uma ligação com o
poder ou com alguém do poder. Não será por causa dessa inoperância das instituições
de estado que cria esse sentimento de exclusão e abandono?
ZA: É verdade que podem existir falhas. Tudo
quanto é sistema ou instituição falha por causa de pessoas que não
fazem o deveriam fazer e todas as instituições só vão funcionar se todos nós formos justos.
Se formos nessas organizações de que tanto se reclama da sua
má atuação, não vamos encontrar o nome das pessoas que
reclamam. A pessoa pode denunciar, mas não o faz.
CA: Não será pelo fato de que, quem deveria nos proteger não
faz o seu trabalho? No hospital público onde os serviços
são gratuitos, temos que dar um refresco para sermos bem atendidos. Os agentes
da policia que deviam nos proteger são eles que nalgum momento praticam atos de
bandidagem.
ZA: Percebo, e é
verdade que acontece o
que acabas de descrever, mas também nos hospitais encontramos também pessoas
filantrópicas. Por outro lado quantas
pessoas têm o costume de usar o livro de reclamações ou a linha verde para
reclamar alguma coisa?
CA: Há casos em que a televisão vai a determinado centro de
saúde, por exemplo, e denúncia as más práticas dessa da unidade sanitária,
mas passados alguns dias a situação volta ao que era antes.
ZA: Se nós formos justos alguma coisa pode
mudar, porque nalgum momento nós somos promotores da injustiça quando, por
exemplo, subornamos um policia.
Alguns dizem assim: se eu estivesse naquela posição também
faria o mesmo, afinal, estas a reclamar por inveja e queres estar no lugar dele
ou porque pretendes mudar as coisas!? Eu acredito que a sociedade pode estar
doente.
CA: Realmente a sociedade pode estar doente. Mas de quem é a responsabilidade de purificar essa sociedade?
ZA:
Eu chamo atenção à família. Essa não é tarefa do governo de purifica a
sociedade. A maneira como nós devemos agir fora de casa, o responsável é a família...
Na tua casa, por exemplo, és ensinado a cumprimentar as pessoas, a não fazer
aldrabisses, mas na casa do vizinho não se aprende isto, então se fores
analisar sozinho, podes chegar à conclusão (errada) de que o teu velho esta a
exagerar e que afinal ele esta a limitar a tua liberdade.
Nós
estamos a abandonar o
problema de base e olhamos para o sistema macro, lá encima e aqui embaixo o quê esta a acontecer?!
Outro exemplo: Dás um telefone a um jovem pra vender a
dois mil meticais (2000). Por quanto ele venderia?
CA: Dois mil e quinhentos (2500), aumentaria algum valor, sem
o dono saber o jovem aumentaria a sua margem.
ZA: Imaginemos que esse mesmo jovem faça parte de um ministério.
Hoje ele é um simples vendedor de telefone a fazer isso. No dia em que
ocupar um cargo relevante e fizer um negócio de estado. O que ele fará?
CA:
Certamente que para ele sempre será mais uma bolada.
ZA:
Queremos que as coisas estejam bem, mas não estamos a ser justo conosco mesmo.
CA:
Sabemos que mais da metade da população moçambicana é jovem. Qual é a sua
opinião em relação à falta de emprego?
É dever do estado criar condições para o seu povo
ZA:
Existem diversos fatores para o desemprego, um deles são as políticas que
falham, acabam não resultando naquilo que se pretendia. Uma questão que olho
com preocupação é a maneira que nós, como sociedade gerimos os 7 milhões,
talvez, se o valor que foi emprestado, fosse usado para o que realmente se
pretendia, creio que não teríamos a taxa de desemprego como esta hoje. Os EUA,
por exemplo, cresceram com o privado.
É
verdade que é dever do estado criar condições para o seu povo, para isso que
existem políticas algumas que falham por causa de sabotagem.
Existem
também modelos de alguns países que formam consoante a necessidade, por isso
não apresentam números altos de pessoas sem emprego.
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