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Moçambicanices... Mia Couto



“Nas zonas rurais onde trabalho existe uma curiosa maneira de responder às perguntas formuladas por um estranho. Sobretudo se essas questões solicitam a cruel dicotomia do “sim” e do “não”. Resolve-se da seguinte maneira: responde-se sempre sim. O “não” simplesmente não se diz.

Esta forma de retórica (ou melhor esta ausência de retórica) traduz a nossa condição geográfica:

Moçambique já é Oriente. *Não negar* é uma educação. Mas esta elegância de trato cria, por vezes, problemas aos que necessitam de respostas claras e concisas. É o meu caso quando chego a uma zona litoral e necessito organizar o meu trabalho. À minha pergunta:

- A maré está a subir?

A resposta já aconteceu assim:

- Está a subir, sim senhor, mas já começou a descer há mais de duas horas.

Uma outra vez, tendo por missão identificar a fauna numa floresta, perguntei a um velho que me acompanhava:

- Isto que está cantar é um pássaro?

- É, sim.

- E como se chama este pássaro ?, quis eu saber.

- Bom este pássaro, nós aqui em Niassa não chamamos bem-bem pássaro. Chamamos de sapo.

Num balanço da aplicação do lema de governação “por um futuro melhor” a Televisão de Moçambique fez um inquérito popular. A pergunta era: “sente que a sua vida está a melhorar?” 

Um cidadão respondeu assim:

- “Está melhorar, sim senhor. Mas está a melhorar muito mal."


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