Às famílias que estão mais vulneráveis ao impacto da covid19, o Governo de Moçambique, através do Instituto Nacional de Acção Social (INAS), disponibilizou um subsídio social, designado Apoio Social Directo Pós-Emergência cujos beneficiários devem ser mulheres chefes de agregado familiar com crianças entre os 0-2 anos, sem nenhuma fonte de renda; mulheres grávidas sem renda; mulheres chefes de agregados com seis ou mais dependentes, sem nenhuma fonte de renda; chefes e membros de agregados familiares incapacitados para o trabalho e sem quem possa suportar as suas despesas; idosas chefes de família sem renda; pessoas com deficiência física e doença crónica degenerativa sem quem suporte suas despesas, famílias de acolhimento e por fim famílias com alto nível de dependência.
No entanto, o INAS está a ter dificuldade de fazer a distribuição do dinheiro o que está a gerar conflitos/barulho nos bairros, e em outro bairro nem sequer foi efectuado o pagamento. A título do exemplo, no bairro T3, no Município da Matola, não houve transparência no trabalho, enquanto na Liberdade nem sequer houve trabalho. O jornal Zambeze conversou com alguns beneficiários desta iniciativa nos bairros. Artur Langa de 65 anos e morador do Bairro T3, foi um dos beneficiários do subsídio Covid19 e ressalva que “o gesto que recebemos de ajuda da Covid19 é bem-vindo porque ajuda a população desfavorecida sem meio de sobrevivência e também a nós da terceira idade alivia-nos das despesas por um tempo”. Embora tenha sido o único na família que foi beneficiado diferente das outras famílias que foram mais de um membro, considera o valor significativo. Para Artur, o subsídio chegou em boa altura e teve uma grande utilidade. “Com o dinheiro pude fazer algumas compras básicas de alimentação e reparar os meus electrodomésticos que já há muito não podia usar devido ao seu estado degradado. No entanto, a fonte apela aos que tiveram a oportunidade de ter o subsídio que façam um bom uso do mesmo e, aos que não tiveram o subsídio diz que o Governo devia criar uma segunda oportunidade
O Zambeze deparou-se com Énia Rafael que já há muito pretendia falar do barulho, só que não tinha meios. A fonte, de quarenta e quatro anos, é residente também do Bairro T3, a sua família é composta por cinco membros. Infelizmente, a sorte não bateu na família porque não foi beneficiada. “O chefe de quarteirão apareceu nas nossas casas e garantiu-nos que havia doação do dinheiro fica em casa e com isso mandaram-nos fotocopiar os nossos bilhetes de identidade que deviam ser dirigidos ao chefe de quarteirão e assim o fizemos ”, afirma Énia, adiantando que passado um tempo, ouvimos “zunzuns” que há dinheiro, e procuramos saber do chefe de quarteirão o que se passava, e ele disse que o dinheiro vem do INAS e não é para toda gente, mas sim para idosos, mas as pessoas do bairro diziam outra coisa, que o dinheiro era para população porque foi doado a Moçambique para ajudar o povo. Mas não apanhamos nada ”, disse a fonte. Entretanto Énia anseia por outra oportunidade. “Como dizem que haverá segunda via, espero que o meu nome desta vez conste da lista, pois todos somos povo, e a vida está difícil para todos”, reiterou a fonte, lamentando que “não entendo como é feito o trabalho, pois, o chefe de quarteirão diz que quem tem direito é um membro da família, mas em algumas famílias foram inscritas todos os maiores de idade, e em outras apenas o casal”. Uma fonte que não quis se identificar, e indignada com a situação, reportou ao Zambeze que inscreveu-se, mas o seu nome não constava na lista. “Após a confusão dos nomes, o chefe de quarteirão passou por minha casa novamente e levou
as cópias do bilhete de identidade, escreveu os nomes da minha família e estou na expectativa, aguardando como nos foi dito, que teríamos o dinheiro em dobro da primeira e segunda fase”.
As estruturas do bairro não passam por todas casas
Carla José também do T3, teve informação por curiosidade. “Os meus vizinhos dizem terem passado por suas casas algumas pessoas onde registavam seus nomes, e na minha ninguém passou por lá e nem sabia que existia isso, o que sucedeu foi que vi muita gente na fila na Escola do T3 e aproximei com intuito de saber o que se passava e disseram-me que “estamos nos escrevendo para o subsídio da Covid19” e também fiquei na fila para fazer a inscrição”. Carla fez o seu cadastro com sucesso, porém seu nome no dia do pagamento não constava na lista, o motivo que levou-a não ter acesso ao subsídio. Segundo ela presenciou todos membros de uma família a receberem o valor. “Não sei qual foi o critério usado para a inscrição, mas algumas famílias não recebem e outras recebem em massa. As pessoas ao meu redor receberam e muitos membros da mesma família”, disse Carla. O Zambeze conversou também com uma benificiária que também não quis identificar-se. “O meu chefe de quarteirão não passou por minha casa, mas vi algumas casas que recebiam visitas e eram inscritas, então, fui-me inscrever com a minha família não no nosso quarteirão mas sim num outro, e conseguimos o apoio. “Conseguimos nos cadastrar todos e recebemos o valor ” afirmou. Informação não transparente resulta em trabalho não transparente A adjunta de quarteirão do bairro da T3, afirma que o bairro de facto está agitado, embora existam alguns quarteirões que estejam calmos. Alega ter sido umas das pessoas com uma informação não transparente, motivo do trabalho também não ter sido transparente. “Estava com o chefe de quarteirão e de repente cruzamo-nos com o secretário do Bairro a fazer o levantamento dos dados, mas que seria para quê mal sabia, porque não fui informada, foi quando disse inscrevam pessoas X,Y e Z para o subsídio da Covid19 porque são vulneráveis”, disse a fonte. “Após a inscrição, tempos depois devia fazer-se o cadastro das pessoas inscritas, e na lista constavam nome de muitas pessoas, mas essas mesmas pessoas não tinham conhecimento da informação. E qualquer um ia fazer o cadastro porque se tinham um número de pessoas exactas por atingir, por isso cadastravam até os que não tinham direito, e por isso algumas pessoas do meu quarteirão tiveram o dinheiro devido a essa brecha” reiterou a fonte. A adjunta afirma que só depois de ter havido desordem e não transparência no trabalho é que tiveram o esclarecimento de que deveriam apenas ter inscrito pessoas vulneráveis. Invasão dos moradores na residência do chefe de quarteirão O chefe do quarteirão alega não ter participado directamente do processo porque encontrava- -se com problemas de saúde, mas para que o trabalho não ficasse paralisado com a ausência dele, os companheiros de trabalho prosseguiram com o trabalho da inscrição dos beneficiários. “Os meus colegas fizeram o trabalho que é a inscrição dos beneficiários e acontece que nomes de muitos moradores inclusive o meu não constava na lista mas por qual motivo não sei dizer”, expressou a fonte. Segundo o chefe de quarteirão, passavam por casas e registavam um membro por cada família. “Registavam um membro em cada família porque foi a orientação que se teve, apenas duas pessoas do meu quarteirão tiveram o subsídio até eu não cheguei a ter”, afirma chefe de quarteirão. A situação gerou uma confusão no bairro. “Os moradores quase sempre vinham até minha casa para tirar satisfação, se até os superiores não conseguiam responder imaginem eu. Tentamos acalmar o barulho indo a casa das pessoas levando as cópias de bilhete de identidade mas nem com isso, o bairro continua agitado”, reportou assumindo que houve falta de informação do procedimento, facto que criou toda a desordem vivida.
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