Anani inquiria a si mesma: será que acordarei com o canto desafinado do galo da cidade? Ou passarei desta para outra como os mosquitos que abandonam a vida esmagadas pelo bater de palmas, quando buscam alimento no corpo do homem?
Anani vivia na cubata da incerteza, a morte sempre esteve a vigia-la. O caniço e o capim da cubata onde ela morava amiaçavam acabar com ela sempre que o calor da vela afugentava o escuro da noite. O sopro do vento, não a deixava segura, podia a qualquer momento reduzir a cinza a palhota deixada pelos pais mortos num acidente de viação. Agora só restava a avó que mal tinha forças para ajudar nas tarefas de casa.
Sem querer, Ana deixou fluir o sentimento da inveja. Revoltava-se em silêncio quando via as vizinhas txunadas, algumas fazendo cara de quem havia comido e não gostado logo que se cruzavam com ela trajada de capulana e de uma xicalamidade amarfanhada. Era cara feia para lá, cuspo p'ra cá. Satanhoco que herdaria a feiteçaria da avo manbone.
As rugas da avó e os trapos que ela ousava fazer de roupa, atraim insutos a sua pessoa.
Nhembete (lágrima) era seu nome tradicional, escolhido em tempos de seca, no tempo em que nem dos olhos chovia lágrimas e quando apenas a fome brotava no estomagos vivos.
Foi da lágrima que nasceu a revolta pelo mundo arrogante e capitalista que ela enfrentava em batalhas que nunca viria a vence-las se continuasse sozinha.
Do seu corpo nasceu a solução, afinal, era o único argumento visivel que ela possuia e que chamava os olhos e os bolsos dos homens.
Descoberta feita, nome trocado. Não mais quis ser chamada de Nhembete, virou Esperança, a puta mais formosa e frequentada da baixa, até que um dos seus clientes endinheirados apaixounou-se por ela e a prometera o que ela sempre sonhara: Casa, fartura, posição social, em fim, uma familia perfeita. Assim foi ate que no dia em que o prÃncipe virou sapo, nunca mais a deixou ser flor como a prometera.
Ana Esperança voltou a ser Nhembete pois não passava uma semana sem ela ser violentada pelo seu prÃncipe encantado.
Izaldo Matavele
Social Plugin