Ngunga esperou impacientemente o regresso do comandante. Mavinga esteve uma semana ausente. Voltou, contando mais uma vitória sobre os colonialistas. Partiram no dia seguinte para o esquadrão de Avança. Ngunga nunca teve tanta pressa de chegar a um sítio. Era sempre o primeiro a acordar e a sacudir o comandante. Avança recebeu-os desconfiadamente, sobretudo por ver Ngunga com Mavinga. Este iniciou logo a conversa. Avança queria discutir a sós com ele, para que os guerrilheiros não ouvissem. Mavinga falou à frente de toda a gente: – Vim buscar as minhas armas que querias roubar. – Roubar, não. Eu… – Roubar, sim, isso chama-se roubar. – As armas são do Movimento… – tentou dizer Avança. – Pois são! E de quem é o meu Setor? Não é do Movimento? Quando atacaram a escola, os tugas apanharam duas armas. Essas que o Ngunga recuperou servem para as substituir. Tu sabias bem disso. Mas quiseste só chatear! Avança perdera toda a sua vaidade. Tinha um palmo a mais que Mavinga, mas parecia que desaparecia à frente dele. Como Mavinga ficara de pé, ele também não se podia sentar. Mavinga continuou, bem alto, para todos ouvirem: – Para que te serviam as armas, se tu andas a fugir do inimigo? Passas a vida nas secções ou nos kimbos; se há uma ofensiva, escondes-te na mata. Para que queres mais armas? Era só para chatear o Mavinga… – Julgas que és só tu que combates? – arriscou Avança. – Vê-se que, entre nós, há uma grande diferença. Mas acabou, dá-me as armas. Sem que o comandante Avança desse a ordem, dois guerrilheiros trouxeram as armas. Mavinga falou mais uma vez, virado para os guerrilheiros: – Se aqui não estamos a lutar bem, a culpa não é vossa, camaradas guerrilheiros. Vocês não têm culpa de terem um comandante assim. Bem, vamos embora. E abandonaram a Secção, para irem dormir na mata. À volta de uma fogueira, longe da do comandante, um guerrilheiro segredou a Ngunga: – O Mavinga tratou mal o Avança. Não o devia ter feito à frente dos guerrilheiros; isso tira a disciplina. Mas houve um problema de mulheres entre eles, é por isso que não se podem ver e falam mal um do outro. Ngunga, deitado ao lado de Mavinga, pensava que só mesmo União era perfeito.
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